sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

OS MEUS POEMAS


Queria que todos os meus poemas
se tornassem chuva
Primeiro pingos de uma chuva miúda
chuva a crescer chuva a cair
convictamente inspirada
convictamente ateada
chuva sobre os cabelos cada vez menos negros
menos trevas menos dores por todos os dias

chuva fortemente enchente
Queria de repente
tateá- la com um sorriso por abrir
rodar cega a cabeça frente a toda essa enxurrada
e cair nua nesse pulsar marcado de água fria
extasiada a deixar-me penetrar por todas as palavras
que lancei de mim para o nada
como filhas esquecidas em geografias
distantes como a austrália o japão a alegria
Sim queria a cabeça muito carregada dessa água
dessa chuva intensa renunciada por todos

aguda dura fina a escorrer pesada pelo corpo aberto
Queria que todos os meus poemas
se tornassem chuva logo

quando a imensidão da noite entrasse
quando tudo dormisse certo na profundidade
E eu pudesse crescer grande como as horas.


Sakamoto, Rain: http://www.youtube.com/watch?v=alRkPBCfDaY