segunda-feira, 4 de julho de 2011

NÃO HÁ DOMINGO SEM POESIA


OS DOMINGOS DE LISBOA (de Pedro Mexia)

«Os domingos de Lisboa são domingos
terríveis de passar», mais terrível
este verso ter quarenta anos.

Tenho menos de quarenta, prazo
de alegrias, mas ao domingo
é plos domingos que tenho tristeza.

Os domingos em que não soube
e se soubesse não seria diferente,
os domingos de pó e naftalina.

Os domingos sem pão e sem
correio, dia do Senhor
que morreu à sexta-feira.

Os domingos de arrumações,
de matutinos do mês passado,
da sesta hipocondríaca na cama maior.

Os domingos decrescentes,
dia em que se envelhece, missa
para os que são de missa,
futebol para os da bola,
e para as famílias almoços
em melancólicos restaurantes,

parques e lojas onde também
estou, passeando com os olhos
os filhos, saudáveis, dos outros.


in Menos por Menos, D. Quixote, 2011

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