quarta-feira, 16 de março de 2011

SUSAN SUNTAG - A CONSCIÊNCIA DAS PALAVRAS

Foi impossível resistir à leitura dos riquíssimos ensaios desta autora a partir dos quais reflecte sobre a literatura de uma forma tão comprometidamente séria que nos envolve nesse forte abraço (que se torna num laço único, num amor) à ideia, à palavra que residem na literatura e dela escorrem. 



«Este volume junta dezasseis ensaios e conferências escritos por Sontag nos últimos anos de vida, período em que as homenagens à sua obra se sucediam por todo o mundo. Em AT THE SAME TIME escreve sobre a liberdade da literatura, sobre a coragem e a resistência, e analisa destemidamente os dilemas da América do pós 11 de Setembro – da degradação da retórica política à horrível tortura dos prisioneiros de Abu Ghraib.

No prefácio, David Rieff descreve a paixão que a impeliu toda a vida: “Interessava-se por tudo. Na verdade, se apenas tivesse uma palavra para a evocar, essa palavra seria avidez. Queria experimentar tudo, provar tudo, ir a toda a parte, fazer tudo (...) Penso que, para ela, a alegria de viver e a alegria de saber eram uma e a mesma coisa.”

A inteligência incisiva de Susan Sontag, o brilho da sua expressividade, a profunda curiosidade pela arte e pela política e a sua responsabilidade de testemunhar enquanto autor, colocam-na entre os mais importantes pensadores e escritores do século XX.»



Deixo, neste espaço que se segue, um excerto do discurso de aceitação do Prémio Jerusalém a que atribuiu o título "A Consciência das palavras" e que tanto gostei de ler:

«Assim, a Literatura é – e falo prescritivamente – auto-consciência, dúvida, escrúpulo, rigor. E também – mais uma vez, prescritivamente, assim como descritivamente – canção, espontaneidade, celebração, júbilo.

As ideias acerca da literatura – contrariamente às ideias sobre, digamos, o amor – quase nunca surgem que não seja à resposta à ideia de outros. São ideias reactivas. Digo isto porque tenho a impressão de que tu – ou a maior parte das pessoas – dizem aquilo (…)

Digo isto quando dizes aquilo, não apenas porque os escritores são por vezes, adversários profissionais. Não apenas  para corrigir o inevitável desiquilíbrio ou parcialidade de qualquer prática que tem o carácter de uma instituição – e a literatura é uma instituição – mas porque a literatura é uma prática enraizada em aspirações inerentemente contraditórias. (…)

Assim, cada obra de literatura com importância, que merece o nome de literatura, encarna um ideal de singularidade, de voz singular. Mas a literatura,que é uma acumulação, encarna um ideal de pluralidade, de multiplicidade, de promiscuidade.

Qualquer ideia de literatura em que possamos pensar – literatura como empenhamento social, literatura como busca de intensidades espirituais pessoais, literatura nacional, literatura mundial – é ou pode vir a ser, uma forma de complacência espiritual, de vaidade ou de auto-satisfação.

A literatura é um sistema – um sistema plural – de padrões, ambições, fidelidades. Parte da função ética da literatura é a lição do valor da diversidade.

Evidentemente, a literatura deve operar dentro de limites. (Como todas as actividades humanas. A única actividade sem limites é estar morto). O problema é que os limites que a maior parte das pessoas quer traçar iriam sufocar a liberdade da literatura ser o que pode ser, com toda a sua inventiva e capacidade de servir de agitação.»

Susan Sontag, Ao mesmo tempo, Quetzal

Sem comentários: