terça-feira, 4 de janeiro de 2011

OBRA POÉTICA- SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

«A presente edição, agrupando pela primeira vez num único tomo a obra poética da autora, segue e actualiza os critérios de fixação de texto adoptados na segunda das referidas séries, a série das edições «revistas». Publica-se igualmente, neste volume, um conjunto de poemas dispersos em revistas, em livros colectivos, em jornais e num cartaz, desde textos que remontam à primeira fase da produção de Sophia, dos anos 1940, até aos últimos poemas escritos em 2001. Alguns destes textos já foram dados a conhecer na antologia Mar, a partir da 5.a edição, saída em 2004 (selecção e organização de Maria Andresen de Sousa Tavares). Não se inclui no presente volume um número considerável de poemas inéditos, que integram O espólio da autora, e que aguardam publicação em futura edição crítica.»


 
A sensação que tive ao entrar no ano novo com esta Obra Poética nas mãos foi a de possuir uma esfera de cristal que quanto mais se contempla mais  mar traz até nós. Há uma transparência na poesia de Sophia  a que só ela sabe dar voz. Um apelo à origem, um retrocesso ao elemento Água que desfaz toda a sabedoria posterior e nos faz reconhecer em todas as coisas o Índício de toda a emoção humana. Essa simplicidade de uma linguagem pura e desprovida de artificialismo desperta o primeiro sentido de tudo o que nos cerca, fazendo-nos ver a palavra como um naco de verdade submersa nos traços poéticos de um sentir universal. Ler um poema como se entre o meu olhar e as palavras negras inscritas nas folhas brancas se intrometesse um líquido translúcido,quase morno, levemente agitado pelos dedos que apontam as entrelinhas, que apontam as letras...uma sensação de um acordar de verão a entrar na praia cheio de uma luz tão clara que aquece tudo o que se vê, e torna o real numa transcendência à mão da leitura - real daqueles que gostam de pressentir proximamente o golpe da Criação.


UM PÁLIDO INVERNO

Um pálido inverno escorria nos quartos
Brancos de silêncio como a névoa
Um frio azul brilhava no vidro das janelas
As coisas povoavam os meus dias
Secretas graves nomeadas

Sophia de Mello Breyner Andresen, Dual




 

1 comentário:

Anabela disse...

Amiga tão linda
as tuas palavras brilham de emoçao ainda mais quando falas de MAR e de SOPHIA!!!! E que conjugaçao fantástica.... percebo-te qunado falas nesse fluido intersticial...

Adorei o poema... adoro Sophia... que ALMA!!!!
beijos amiguinha