quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

DN de 29 de Dezembro de 2010 - FELIZ ANIVERSÁRIO!


Linda amiga,
antes de tudo o resto "FELIZ ANIVERSÁRIO!"
Agora aproveito para te confessar que assim que me avisaste disto, nem queria acreditar...  logo hoje, no dia em que comemoramos os teus anos de vida, a edição do DN, repito, a edição do dia 29 de Dezembro de 2010, é especialmente coordenada pelo Gonçalo M. Tavares... e até uma garrafa de champanhe trouxe para casa com o jornal. Foi cheia de inveja (inveja com minúscula,  mais saudável do que a vulgar Inveja humana, dada a grande amizade que por ti sinto) que conclui que, afinal, depois desta coincidência, nenhuma outra ocorrência, cheia deste carácter excepcional, me poderá cruzar, a mim, mortal-leitora-do-séc-XXI com Gonçalo M. Tavares, imortal-escritor-do-mesmo-séc.-XXI, numa mesma data tão importante. Pretendo fazer com este jornal que comprei há algumas escassas horas, num ímpeto sem igual (não sei se fora a tal inveja que se apoderou de mim, mal dei com a data do jornal seguida da fotografia do rosto sério de M. Tavares a olhar para os meus olhos...), o mesmo que fiz quando nasceu toda a pequenada da família: oferecer-to porque traz notícias de um dia que é teu. Sinceramente, acho que é uma sorte o que te aconteceu. Como encontrares alguém que consegue fazer do teu dia de aniversário, um dia ainda mais especial (se isso for possível, linda amiga... e por isso mesmo tornares-te uma amiga ainda mais bela do que a que para mim eras).
Deixo-te o Editorial assinado pelo Gonçalo M. Tavares (sabes que gosto sempre de ler editoriais frescos...), pretenso director do DN. (Impossível fazer melhor!).









EDITORIAL


DAS LEITURAS E DA MEDICINA
por Gonçalo M. Tavares

1. Um médico responsável, um médico de seres humanos e não um médico de órgãos que ainda estão vivos, logo a seguir à questão: o que é que come?
deveria perguntar ao seu paciente: o que é que lê? E que imagens é que vê habitualmente?
2. Sempre associámos a saúde às consequências de algo que o corpo absorve. Ou culpamos a genética ou culpamos o que comemos, as experiências físicas, os nossos hábitos e vícios.
Se falarmos de saúde mental não deveremos esquecer o que a cabeça absorve. A cabeça que absorve boas palavras, palavras que fazem pensar, palavras que exigem trabalho de interpretação, que exigem esforço, movimento mental, a cabeça que absorve esse tipo de palavras terá melhor saúde, eis a evidência.
3. Uma expressão de que gosto particularmente é a do escritor Henri Michaux. Ele chama à sua cabeça "as minhas propriedades": a cabeça é o seu território - é o território de cada um; são, no fundo, metros quadrados por ocupar, uma extensão interminável, felizmente. Quando Michaux vê num álbum de fotografias uma bela imagem de um animal, ele murmura, que bonita esta imagem - vou levá-la para as minhas propriedades! E assim faz: leva aquela imagem para a sua cabeça, isto é, guarda-a na memória.
A nossa cabeça é, em parte, um armazém, sim, e enorme: por dia, levamos para o nosso território mental centenas de imagens, centenas de frases e sons.
4. Mas a cabeça não é um armazém ou um museu que tenta conservar exactamente aquilo que recebe.
A nossa cabeça é mais um espaço de absorção e digestão. A cabeça é o estômago alto, o estômago inteligente: digere alimentos mentais, digamos assim, digere, por exemplo, textos que lê, imagens que vê, músicas e sons que ouve.
E por isso é que escrever ficção (literatura) e escrever realidades (notícias) - usemos esta expressão - são duas formas de exercer uma responsabilidade. O que cada um lê e vê entra na cabeça e aí alojado faz o seu percurso, avança e muda, interfere com os antigos habitantes desse espaço, com as ideias e imagens anteriores, entra em conflito, faz novas associações.
5. Regressando ao início. O médico que se preocupe com a saúde do seu paciente, dos pés ao cabelo, não deve apenas aconselhar mudanças de dieta alimentar e hábitos físicos. Deve ainda aconselhar mudanças de dieta de leitura, mudanças de dieta de música, mudanças de dieta de imagens. Tal como aconselha alimentos e hábitos, poderia aconselhar filmes, livros, fotografias e artigos de jornal, compositores e concertos.
6. Quando se faz algo que pode interferir na cabeça dos outros é interessante pensar nesse médico ideal, lúcido e sábio, provavelmente inexistente, que algures, no seu consultório, aconselha dietas intelectuais.

1 comentário:

Anabela disse...

Doçura lindaaaaaa
Acabaste de me dar um presente lindooooooo!
Adorei as tuas palavras tão ricas, tão belas, sempre tão apropriadas e recheadas de sabores intensos e emoções!!! Adorei o teu apaixonamento pelas palavras de Gonçalo M Tavares que me apaixonaram igualmente... que lucidez de escrita!!!! Sabes que nunca tinha reflectido nessa possibilidade de os médicos falarem na saúde em termos culturais e artísticos... no fundo, através de uma "dieta" de lituratura!!!!! Este homem deixa-nos de facto completamente sem palavras!!!! Dou por mim a relere sem parar aquele ciclo que ele próprio numerou! Doçura ele usou a matemática e numerou o seu próprio editorial!!! FANTÁSTICO!!!!
Tenho muitas observações a fazer-te mas acredita que nunca vou esquecer este lindo presente que me deste.... e que pensei que tinha sido eu a oferecer-te mas acabo por ser prendada igualmente...(ainda mais porque acresce às palavras deste génio, as tuas que para mim são lindas!!!! escreves como ninguém!!! )
Adoro-te amiguinha por me fazeres sonhar tanto... por me dares tanto... por me permitires reflectir... por seres minha amiga e gostares de mim!!!

muitos beijinhos