quinta-feira, 7 de outubro de 2010

PARA QUEM O NOBEL?

Nestes breves minutos que antecedem a revelação do nobel da literatura 2010, pergunto-me pela última vez: será que é desta vez que distinguem a poesia? a voz do poeta sueco Tomas Transtromer? Será a poesia a vitoriosa? Deixo um poema dele sobre Lisboa.

LISBOA



No bairro de Alfama os eléctricos amarelos cantavam nas subidas.
Havia duas prisões. Uma delas era para os gatunos.
Eles acenavam através das grades.
Eles gritavam. Eles queriam ser fotografados!


Mas aqui", dizia o revisor e ria baixinho, maliciosamente,
"aqui sentam-se os políticos". Eu vi a fachada, a fachada, a fachada
e em cima, a uma janela, um homem,
com um binóculo à frente dos olhos, espreitando
para além do mar.




A roupa pendia no azul. Os muros estavam quentes.
As moscas liam cartas microscópicas.
Seis anos mais tarde, perguntei a uma dama de Lisboa:
Isto é real, ou fui eu que sonhei?




Tomas Tranströmer


tradução de Luís Costa

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