sábado, 19 de junho de 2010

SARAMAGO PONTUA


Incomoda-me quando ouço alguns pretensos leitores dos livros de Saramago dizerem que ele não pontua os textos e que por isso não o lêem. É das coisas mais absurdas mas que realmente se ouve repetidamente como desculpa da rejeição em absoluto da sua obra.

Habituei-me a deixar passar estas incompreensíveis palavras de alguns, mantendo silêncio, porque, no fundo, sei que são pessoas que nunca o leram de facto, provavelmente por preconceito político ou religioso (ou então por não terem capacidade para a leitura de uma obra maior da literatura universal, isto também pode ser um facto) - senão não poderiam dizê-las.
Agora que Saramago nos falta e jamais poderá esclarecer esse equívoco, mostro o excerto que guardo para ler aos alunos (com a alegria da sua necessária tradução para o português) que um dia encontrei na revista Books nº8, como resposta a uma entrevista feita ao nosso Nobel:


«C'est dans une sorte d'abolition de la ponctuation que José Saramago a trouvé sa voix?

Il ne s'agit pas d'abolition de la ponctuation. Je crois que nous parlons avec les mêmes éléments que nous faisons de la musique: des sons et des pauses, brèves ou longues. J'ai appliqué ce principe oral et musical à mon style, en ne conservant que des mots et des pauses - les virgules et les points. Cette façon d'écrire donne la primauté à la valeur mélodique de la phrase, dont l'organisation rapproche l'écrit de l'oral.Attention, il ne s'agit pas de transcrire le discours oral à l' écrit, ce qui ne fonctionne jamais; mais de transposer à l'écrit le mécanisme du langage parlé. Au fond, ce ton n'est pas celui d'une oralité mais une "auralité", au sens où mes mots sont faits pour être entendus.»


A última entrevista dada à Books quando editou A Viagem do Elefante pode ler-se na íntegra (vale bem a pena) neste endereço, onde de resto se explica um estilo de escrita único, inovador, inaugural de uma nova literatura no mundo:

http://www.booksmag.fr/magazine/a/jose-saramago-ce-sont-les-lecteurs-qui-ont-fait-de-moi-un-ecrivain.html

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