quarta-feira, 12 de maio de 2010

O PRAZER DA LEITURA

Picasso
D' O Prazer da Leitura, livro de contos, de edição conjunta da Teorema e da Fnac, publicado recentemente para comemorar o dia do livro destaco, no seu melhor, um breve excerto do texto de Gonçalo M. Tavares.
Para ti Anabela, porque estamos sempre a aprender e a apreender o que vai na cabeça dos outros através da literatura e, neste caso, com um sorriso de espanto nos lábios. Mil bjs:
"(...) há versos que existem apenas entre um homem e uma mulher, no quarto, no momento em que um finge que dorme e o outro lhe segreda ao ouvido. Ele diz um verso encostado à nuca dela e a história dessas palavras termina aí. Mas isto é um exemplo. A mulher adormeceu como nunca depois conseguiu (e dezoito mil noites permaneceu ainda viva e com sono, essa mulher). Eis o que fez um verso, um dia, e não mais se repetiu. Isto é que eu digo e afirmo.
Porque os versos não valem pelos quilómetros que percorrem; que a utilidade deles não se confunda com a de um carro. Há versos que nem um metro avançam e são, afinal, lugares espantosos para fundar uma igreja ou uma maternidade.
Mas o que falta são igrejas onde os versos sejam escutados como se escutam as palavras de Deus. (...)"
In Seis perguntas ao senhor Breton - sobre o prazer da poesia de Gonçalo M. Tavares

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