sábado, 29 de maio de 2010

AS LÁGRIMAS DO MEU PAI - JOHN UPDIKE

Contracapa / Sinopse: «Os últimos contos escritos por Updike, publicados apenas após a sua morte. Uma obra bela e comovente, na qual o autor revisita os lugares da sua infância a partir da posição privilegiada da velhice.
Em O Passeio com Elizanne, velhos amigos retomam o contacto num reencontro de antigos alunos e um deles medita: “o que quer dizer esta enormidade de termos sido crianças e agora sermos velhos, a morar na porta ao lado da morte.”
No conto O Copo Cheio, o protagonista descreve de um modo pesaroso os rituais da velhice. Antes de se deitar, ergue o seu copo de água e “brinda ao mundo visível, mandando o seu iminente desaparecimento à fava”.
Em Variedades da Experiência Religiosa, um idoso de visita à filha em Brooklyn Heights vê desabar a Torre Sul do World Trade Center e a sua visão de Deus é alterada para sempre.
Nestas histórias memoráveis, Updike apela vezes sem conta ao sentimento, dando palavras ao que tantas vezes fica por dizer. É simultaneamente espirituoso, devastadoramente atento, comovente e, claro, um contador de histórias consumado. Esta é uma colectânea que será admirada e estimada.»
Um livro de contos a não perder é este do norte-americano John Updike. As Lágrimas do meu pai reúne os últimos contos que o escritor escreveu, comprovando a sua mestria. Deixo um excerto de muitos que, como podemos ler na contracapa, valem a pena ler:
"Neste quarto de hospital excessivamente enfeitado, Andrea parecia mais nova, forte, eficiente, graciosa; David orgulhava-se dela. Era cativa de uma outra tribo, de um outro estado que não a Pensilvânia.
Mamie tentou falar-lhes acerca do seu sofrimento.
-Por vezes, sentia-me um pouco impaciente com o Senhor, mas depois tive vergonha de mim própria. Ele não nos faz sofrer mais do que a força que nos dá para aguentar.
Na Pensilvânia teista, percebeu David, as pessoas desenvolviam filosofias. Onde ele vivia actualmente um ateimo irresistível deixava que sofressem com o estoicismo tácito, recessivo dos animais. Quanto mais inteligentes fossem, menos tinham a dizer in extremis.
Mamie continuou:
- Tenho andado a reler Shirley MacLaine, onde ela diz que a vida é um livro e é nosso dever descobrir em que capítulo está. Se este é o meu último capítulo, tenho de o ler dessa forma, mas, sabem, aqui deitada, tenho tido muito tempo para pensar e... - no seu rosto largo, afável, quase tão pálido como a almofada, os olhos azuis lacrimosos hesitavam tornando-se vivos e mordazes.- Acho que não e - concluiu ela, corajosamente. Até mesmo acamada era professora, sabendo mais do que a assistência e desejando transmitir a lição, em consonância com o hábito de toda uma vida."

in O Passeio com Elizanne, p.39

Sem comentários: