sábado, 24 de abril de 2010

HILDA HILST


Que canto há de cantar o que perdura

A sombra, o sonho, o labirinto, o caos

A vertigem de ser, a asa, o grito.


Que mitos, meu amor, entre os lençóis:


O que tu pensas gozo é tão finito


E o que pensas amor é muito mais.

Como cobrir-te de pássaros e plumas

E ao mesmo tempo te dizer adeus

Porque imperfeito és carne e perecível

E o que eu desejo é luz e imaterial.

Que canto há de cantar o indefinível?

O toque sem tocar, o olhar sem ver

A alma, amor, entrelaçada dos indescritíveis.

Como te amar, sem nunca merecer

Hilda Hilst, Da Noite, 1992

Salvador Dali


À eterna Hilda Hilst, que para mim é um livro infinito,

Dá vontade de comer
as palavras de Hilda Hilst,
e depois de as enrolar
na saliva a salvivar,
cantá-las de uma varanda
muito alta muito estreita
onde só cabe um corpo fino,
para as lançar leves
como violetas sobre a cidade agitada
sobre as cabeças dos noivos
como uma badalada antiga
ou então como gazelas espavoridas
que mal pousam nos prados
seus corpos delgados
só vêem o Longe
e não sabem como parar de correr.

Surto de escrita, 2009



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