domingo, 27 de setembro de 2009

sobre Zygmunt Bauman

As reflexões desta quinzena do teu e meu, ou nosso, querido Gonçalo M. Tavares são dedicadas a Z. Bauman. Transcrevo de seguida esse texto, retirado do JL, e adiciono ainda alguma informação sobre esse polaco, meio desconhecido entre nós. Espero que gostes, pois penso ser mais um personagem da série O Bairro.


«Nenhuma informação é suficiente. Um homem na cidade procura a moral que o salve. Olha para o chão, não a encontra. Olha para cima, nada. Decide atravessar a pé a estrada. O tráfego é intenso, um carro quase o atropela. Ele pára, deixa passar o carro. Depois, vê que o carro seguinte está lá ao fundo; começa a correr para o outro lado do passeio, mas o carro que há um instante estava lá ao fundo está agora mesmo ali, perto das suas pernas, do seu tronco, da sua cabeça. A velocidade é isto.

Mas o homem conhece a velocidade. Acelerou, também ele, e chegou intacto ao passeio.

A moral da cidade, em parte, é isto: a velocidade.

Nenhuma cidade moderna aceita um homem lento.»

A questão colocada por Maalouf não podia ser mais bem colocada: será que a humanidade chegou ao limiar da sua incompetência moral?

Zygmunt Bauman (19 de novembro de 1925, Poznań) é um sociólogo polonês que iniciou sua carreira na Universidade de Varsóvia, onde teve artigos e livros censurados e em 1968 foi afastado da universidade. Logo em seguida emigrou da Polônia, reconstruindo sua carreira no Canadá, Estados Unidos e Austrália, até chegar à Grã-Bretanha, onde em 1971 se tornou professor titular da universidade de Leeds, cargo que ocupou por vinte anos. Lá conheceu o filósofo islandês Ji Caze, que influenciou sua prodigiosa produção intelectual, pela qual recebeu os prêmios Amalfi (em 1989, por sua obra Modernidade e Holocausto) e Adorno (em 1998, pelo conjunto de sua obra). Atualmente é professor emérito de sociologia das universidades de Leeds e Varsóvia. Bauman tornou-se conhecido por suas análises das ligações entre modernidade e o holocausto e do consumismo pós-moderno.

(Fonte: wikipédia)

2 comentários:

Anónimo disse...

Minhas amigas o problema pode ser que como diz Maloof nos seus livros vermos a nossa sociedade apenas pelo prisma dos ocidentais "civilizadores" e que supostamente foram "ensinar" os outros povos. A questão que se coloca é que esse pressuposto pode estar complemente errado e isso vai condicionar todo o pensamento subsequente.

...o vosso seguidor....

Leitoras SOS disse...

Mais um texto de M. Tavares com que podemos deliciar-nos.Relexões sobre a cidade também me atraem bastante. Ele toma como sua definidora a velocidade. E acho que é um bom indicador dos nossos tempos. A velocidade a que tudo gira para quem vive nas cidades é avassaladora. Os carros correm, as pessoas correm, os relógios marcam horas que nos desagradam pela rapidez com que correm também os segundos, os minutos, as horas, sempre a esgotarem o tempo que temos. O tráfego é intenso, como um ponteiro gigantesco que aponta para a hora certa e faz com que todos tenhamos que ir por ali. Nas cidades esquecemo-nos muitas vezes de andar a pé. Estamos sempre com a pressa de um carro, de um motor...Não há tempo para usarmos as pernas nem os 5 sentidos. O personagem de M. Tavares resolveu prevaricar, é uma espécie de louco que nestes tempos decide ir algures procurar a moral. Coisa tão arriscada como atravessar a estrada de uma verdadeira cidade.Depara-se com essa impossibilidade e acusa a velocidade (que tão bem conhece!) como substituta da moral perdida. Como tem razão a percepção apuradídsima do Sr. M. Tavares: o homem moderno nem sequer tem tempo para pensar nisso... É um escravo do tempo e do trabalho! Quem diria que no século XXI com tanta expectativa na robotização e computadorização de tudo, nos tornássemos mais escravos do que o fomos antes da Grande Revolução Industrial? Ninguém vê isto? Eu diria mais: a velocidade engoliu o homem.Às vezes queria ser outro animal.Estender-me na soleira da porta da minha mãe e ouvi-la falar, cantarolar, interagir com os meus irmãos, o meu pai, os meus avós, os amigos de casa (ainda havia amigos nesse tempo em que tudo era lento. Não sei bem se queria ser cão ou gato. Digo-te mais tarde, minha linda amiga, apesar das horas correrem como os carros desta cidade sem moral que M. Tavares diagnostica tão bem, num estilo que por vezes parece desprovido de lógica. Só parece. Bjs, mts bjs por este post.

Estou de acordo com o nosso seguidor quando comenta este post. O Ocidente é vaidoso e ditador... Por que razão seremos nós os detentores do "modelo-intocável". E se nos puséssemos do outro lado do espelho, sem gel, sem fato, sem gravata e conseguissemos avaliar-nos como se fossemos outros? É preciso "atravessar a pé a estrada" para percebermos o que se passa com a moral.Pressinto que ela está abafada por dinheiro vivo. É este que comanda a velocidade sem quaisquer escrúpulos. (...)
Queria também conhecer esse filósofo de que falas. Hei-de procurá-lo.Despertou-me imensa curiosidade a relação que pode existir entre o Holocausto e o consumismo.